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Nebulosa de Órion |
Uma
nebulosa planetária é um objecto astronômico que consiste numa concha
brilhante de gás formada por certos tipos de estrelas no fim das suas vidas.
Não têm relação nenhuma com os planetas; o nome deriva de uma suposta
semelhança em relação à aparência dos gigantes gasosos. São fenômenos de
curta duração (apenas alguns milhares de anos) quando comparados com o tempo de
vida estelar típico (alguns milhares de milhões de anos). Conhecem-se cerca de
1,500 nebulosas planetárias na nossa Galáxia.As nebulosas planetárias
são objetos importantes para a Astronomia porque desempenham um papel
crucial na evolução química de uma galáxia, enviando material para o meio
interestelar, enriquecendo-o em elementos mais pesados através da
nucleossíntese. Nas outras galáxias, as nebulosas planetárias podem ser os
únicos objectos observáveis capazes de fornecer informações acerca de
abundâncias químicas.
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Nebulosa da Ampulheta |
Nos
últimos anos, o Telescópio Espacial Hubble tem revelado a extrema complexidade
e variação morfológica das nebulosas planetárias. Cerca de um quinto são mais
ou menos esféricas, mas a maioria não é simetricamente esférica. Os mecanismos
que produzem tais variedades de formas e características não são ainda bem
compreendidos.
As nebulosas planetárias são geralmente objectos
ténues, e nenhum é visível a olho nu. A primeira a ser descoberta foi a
Nebulosa de Dumbbell na constelação de Raposa, observada por Charles Messier em
1764 e listada como M27 no seu catálogo de objectos nebulosos. Para os
observadores da altura, que possuiam telescópios com uma baixa resolução, M27 e
as nebulosas planetárias posteriormente descobertas eram bastante parecidas com
os gigantes gasosos. William Herschel, que descobriu Urano, eventualmente
atribuiu-lhes o termo "nebulosa planetária" embora, como actualmente
se sabe, sejam muito diferentes dos planetas.
A
natureza das nebulosas planetárias era desconhecida até serem feitas as
primeiras observações espectroscópicas em meados do século XIX. William Huggins
foi um dos primeiros astrónomos a estudar o espectro óptico dos objectos
astronómicos, usando um prisma para dispersar a sua luz. As suas observações de
estrelas mostraram que o espectro era contínuo com muitas linhas escuras
sobrepostas. Mais tarde descobriu que muitos objectos nebulosos, tal como a
"Nebulosa" de Andrómeda, tinham espectros muito parecidos a este -
mais tarde veio a saber-se que estas "nebulosas" eram na realidade
galáxias.No entanto, quando observou a Nebulosa Olho de Gato (NGC 6543),
encontrou um espectro muito diferente. Em vez ser um forte espectro contínuo
com linhas de absorção, a Nebulosa Olho de Gato e outros objectos parecidos
mostravam apenas um pequeno número de linhas de emissão. A mais brilhante
encontrava-se num comprimento de onda de 500.7 nanómetros, o que não
correspondia com nenhuma linha de qualquer outro elemento conhecido. Foi então
proposto que a linha seria de um elemento desconhecido, que na altura recebeu
nome "nebulium" - uma ideia semelhante que levou à descoberta
do hélio pela análise do espectro do Sol em 1868.
Enquanto que o hélio foi isolado na Terra pouco
depois da sua descoberta no espectro do Sol, o mesmo não ocorreu para o "nebulium".
No princípio do século XX, Henry Norris Russell propôs que, ao invés de ser um
novo elemento, a existência da linha dos 500.7 nm era provocada por um elemento
familiar em condições pouco conhecidas.![]() |
Nebulosa Roseta |
Nos anos
20, os físicos mostraram que em gases a densidades extremamente baixas, os
electrões podem popular níveis de energia metastaticamente excitados em átomos
e iões que a densidades mais altas são rapidamente acalmados por colisões. As
transições de electrões destes níveis no oxigénio origina a linha dos 500.7 nm.
Estas linhas espectrais, que podem apenas ser vistas em gases com densidades
muito baixas, são conhecidas como linhas proibidas. As observações
espectroscópicas posteriores mostraram que as nebulosas são feitas de gás
extremamente rarefeito.Tal como será discutido mais abaixo, as estrelas
centrais das nebulosas planetárias são muito quentes. A sua luminosidade, no
entanto, é muito baixa, o que implica que também devem ser muito pequenas.
Apenas depois de uma estrela ter gasto todo o seu combustível nuclear é que
pode colapsar para um tamanho tão pequeno, daí as nebulosas planetárias terem
sido associadas ao estágio final da evolução estelar. As observações
espectroscópicas mostram que todas as nebulosas planetárias estão em expansão,
daí nascendo a ideia que estas são causadas pela libertação para o espaço das
camadas exteriores de uma estrela no fim da sua vida.
Já para o fim do século XX, os avanços
tecnológicos ajudaram a estudar com mais detalhe as nebulosas planetárias. Os
telescópios espaciais permitiram aos astrónomos estudar a luz emitida para lá
do espectro visível que não é observável a partir de observatórios terrestres.
O estudo das nebulosas planetárias no infravermelho e no ultravioleta forneceu
determinações muito mais concretas das temperaturas, densidades e abundâncias
nebulares. Através da tecnologia CCD consegue-se observar linhas espectrais
muito mais ténues do que era anteriormente possível. O Telescópio Espacial
Hubble também mostrou que embora muitas nebulosas pareçam ter estruturas
simples e regulares quando vistas da Terra, a altíssima resolução óptica
alcançada por um telescópio em órbita revela morfologias extremamente
complexas.
As
nebulosas planetárias são a fase final da vida de uma estrela. O nosso Sol é
uma estrela média, e apenas um pequeno número de estrelas pesa muito mais que
esta. Estrelas com mais de umas quantas massas solares acabam a sua vida numa
dramática explosão de supernova, mas nas estrelas de massa média ou baixa, o
fim envolve a criação de uma nebulosa planetária.Uma estrela típica com menos
de metade da massa do Sol passa a maioria da sua vida a brilhar como resultado
da fusão nuclear que converte o hidrogénio em hélio no seu núcleo. A energia
libertada pelas reacções nucleares previnem a estrela de colapsar sob a sua
própria gravidade, o que torna a estrela estável.
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Nebulosa Queda da Água |
Ao fim de
alguns milhares de milhões de anos, a estrela gasta o seu hidrogénio, não
existindo mais energia suficiente no núcleo para suportar as camadas exteriores
da estrela. O núcleo então contrai-se e aquece. Actualmente, o núcleo do Sol
tem uma temperatura de aproximadamente 15 milhões K, mas quando acabar o seu
hidrogénio, a contracção do núcleo irá aumentar a temperatura até aos 100
milhões K.
As camadas exteriores da estrela expandem-se
enormemente devido à altíssima temperatura do núcleo, e tornam-se muito mais
frias. A estrela transforma-se numa gigante vermelha. O núcleo continua a
contrair-se e a aquecer, e quando a temperatura alcança os 100 milhões K, o
hélio do núcleo começa a converter-se em carbono e oxigénio. A reactivação das
reacções de fusão pára a contracção do núcleo. Em pouco tempo o hélio forma um
núcleo inerte de carbono e oxigénio, com uma concha de hélio em torno da mesma.As reacções de fusão do hélio são extremamente sensíveis à temperatura, sendo as velocidades de reacção proporcionais a T40. Isto significa que apenas um aumento de 2% na temperatura mais que duplica a velocidade da reacção. Ora, isto torna a estrela muito instável - um pequeno aumento na temperatura leva a um eleva rapidamente a velocidade das reacções, o que liberta uma grande quantidade de energia, aumentando ainda mais a temperatura. A camada de hélio expande-se rapidamente e depois arrefece, o que reduz outra vez a velocidade da reacção. A estrela sofre várias contracções, que eventualmente se tornam grandes o suficiente para libertar para o espaço toda a atmosfera estelar.Os gases ejectados formam uma nuvem de material à volta do agora exposto núcleo da estrela. À medida que mais e mais quantidades da atmosfera se afastam, camadas cada vez mais profundas a temperaturas cada vez mais altas são expostas. Quando a superfície exposta alcança uma temperatura de cerca de 30,000 K, existem suficientes fotões ultravioleta a serem emitidos para ionisar a atmosfera libertada, o que a faz brilhar.
A nuvem
torna-se então numa nebulosa planetária.
Os gases da nebulosa planetária afastam-se da
estrela central a velocidades de alguns quilómetros por segundo. À mesma altura
que os gases se expandem, a estrela central arrefece à medida que irradia a sua
energia - as reacções de fusão cessam, dado que a estrela já não tem massa
suficiente para gerar as temperaturas nucleares necessárias para a fusão do
carbono e do oxigénio. Eventualmente arrefecerá até um ponto em que não liberta
suficiente radiação ultravioleta para ionisar a nuvem gasosa cada vez mais
distante. A estrela torna-se numa anã branca e a nuvem recombina-se, ficando
invisível. Para uma nebulosa planetária comum, cerca de 10,000 anos irão passar
entre a sua formação e a recombinação.![]() |
Nebulosa Gaivota |
As
nebulosas planetárias têm um papel muito importante na evolução galáctica. O
Universo jovem consistia quase inteiramente de hidrogénio e hélio, mas as
estrelas criam elementos mais pesados via fusão nuclear. Os gases da nebulosa
planetária contêm por isso uma grande proporção de elementos como o carbono,
nitrogénio e oxigénio, e à medida que se expandem e fundem com o meio
interestelar, enriquecem-no com estes elementos pesados, conhecidos pelos
astrónomos como «metais».As gerações posteriores de estrelas irão assim ter um
maior conteúdo inicial de elementos pesados. Embora estes possam ainda ser uma
componente muito pequena da estrela, deixam um efeito delineado na sua
evolução. As estrelas que se formaram muito cedo no Universo e que têm pequenas
quantidades de elementos pesados são conhecidas como estrelas de População II,
enquanto estrelas mais jovens com uma maior quantidade de elementos pesados são
conhecidas como estrelas de População I.
Uma típica nebulosa planetária tem
aproximadamente 1 ano-luz de diâmetro, e consiste de gás extremamente
rarefeito, com uma densidade de geralmente mais ou menos 1,000 partículas por
cada centímetro cúbico - cerca de 10-24 vezes menos densa que a
atmosfera da Terra. As jovens nebulosas planetárias têm as densidades mais
altas, por vezes chegando a 106partículas por cada centímetro
cúbico. À medida que a nebulosa envelhece, a sua expansão fazdiminuir a sua
densidade.
A
radiação da estrela central aquece o gás a temperaturas próximas dos 10,000 K.
Contrariamente ao que se possa pensar, a temperatura do gás normalmente aumenta
com a distância da anã branca. Isto acontece porque quanto mais energético for
um fotão, menor será a probabilidade de ser absorvido, e por isso os fotões
menos energéticos tendem a ser os primeiros a ser absorvidos. Nas regiões
exteriores da nebulosa, os fotões menos energéticos foram já absorvidos, e os
restantes fotões altamente energéticos fazem aumentar a temperatura.As
nebulosas podem ser descritas como limitadas por radiação ou limitadas por
matéria. No primeiro caso, existe tanta matéria em torno da estrela que todos
os fotões ultra-violetas emitidos são absorvidos, e a nebulosa visível fica
rodeada por uma concha de gás não-ionizado - daí a radiação ser limitada pela
matéria. No último caso existem suficientes fotões ultravioletas a serem
emitidos pela estrela central para ionisar o gás dos arredores.
Conhecem-se
cerca de 1,500 nebulosas planetárias na Via Láctea, por entre as 200 mil
milhões de estrelas. A sua curta vida comparada com a das estrelas explica a
sua raridade. Situam-se na sua maioria perto do plano da Galáxia, e a maior
concentração no centro galáctico. Encontram-se muito raramente em enxames
estelares, só se conhecendo um ou dois casos.
Embora as CCDs tenham já quase ultrapassado o
rolo fotográfico na astronomia moderna, um estudo recente aumentou largamente o
número de nebulosas planetárias conhecidas usando um rolo da Kodak (Technical
Pan) em conjunto com um filtro de alta qualidade que isolava as mais brilhantes
linhas de emissão do hidrogénio, que é fortemente emitido por todas as
nebulosas planetárias.
As
nebulosas planetárias são regularmente caracterizadas de acordo com a sua
aparência, usando o esquema Vorontsov-Velyaminov:
1. Imagem estelar
2. Disco macio (a, mais
brilhante para o centro; b, brilho uniforme; c,
vestígios de uma estrutura anular)
3. Disco irregular (a,
distribuição de brilho muito irregular; b, vestígios de uma
estrutura anular)
4. Estrutura anular
5. Forma irregular, parecida a uma
nebulosa difusa
6. Forma anómala
Estruturas
mais complexas podem resultar de combinações, tais como "4+2" (anel e
disco), ou "4+4" (dois anéis).
Um problema que ainda afecta o estudo das
nebulosas planetárias, é que na maioria dos casos as suas distâncias não são
bem conhecidas. Para algumas nebulosas planetárias próximas, é possível
determinar as distâncias ao medir a sua paralaxe de expansão: observações de
alta-resolução registadas com um intervalo de vários anos mostram a expansão da
nebulosa perpendicularmente à linha de mira, enquanto observações
espectroscópicas do efeito Doppler revelam a velocidade de expansão. Ao
comparar a expansão angular com a velocidade derivada da expansão, temos a
distância à nebulosa.![]() |
Porque é que esta formiga não é uma grande esfera? A nebulosa planetária Mz3 é libertada a partir de uma estrela semelhante ao nosso Sol que é certamente redonda. Porque é que então o gás expelido cria uma nebulosa em forma de formiga que é obviamente não redonda? As pistas indicam uma grande velocidade de 1,000 km/s, a estrutura com 1 ano-luz de tamanho, e o magnetismo da estrela vísivel no centro da nebulosa. Uma resposta possível é que Mz3 esconde uma segunda mais ténue estrela que orbita muito próxima da principal. Dado que a estrela central parece ser muito semelhante com o Sol, os astrónomos esperam que o conhecimento mais aprofundado da história desta gigante formiga espacial possa providenciar bastantes informações acerca do futuro do Sol e da Terra.
Crédito: R. Sahai (JPL) et al., Hubble Heritage Team, ESA, NASA |
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